Tenho vindo a referir este livro em anteriores postagens (1). Trata-se de uma monografia de Macau publicada em chinês pela primeira vez em 1751.
“Escrita, no século XVIII, por dois magistrados chineses do antigo distrito de Héong-Sán que, no desempenho do seu cargo, tiveram bastas oportunidades de visitar a cidade de Macau, a “OU-MUN KEI-LEOK” é o repositório mais importante que se encontra publicado, em chinês, dos assuntos referentes a esta nossa terra, quer pela cópia de informações nele compendiadas e que corroboram ou suprimentam as que são já conhecidas, quer pelos documentos oficiais chineses nele reproduzidos que não devem ser hoje possíveis de se conhecerem através doutras fontes.” (2)
O próprio autor, Iân-Kuóng-Iâm (3), explica a origem desta monografia:
“No décimo-primeiro ano de Kín-Lông (1747), recebi um ofício chamando-me à presença do Imperador. A substituir-me ficou Tchèong Tchi-Lèong e, como possuísse conhecimentos literários, entreguei-lhe a cópia original para ele ma rever, na esperança de concluirmos juntos esta obra.
Tchéong-Tchi disse-me que, como estava muito atarefado com os registos, receava não poder corresponder à magnitude da obra. Por isso que a confiasse a Tch´ôi-Hông-Tch´un de Sâu-Sán, da província de Cantão, meu íntimo amigo e cuja idade é igual à minha, a fim deste ma ordenar…(…)
A doença de Tch´ôi era, porém, grave e, passado pouco tempo faleceu, desaparecendo o original desta obra…(…)
Tchéong-Tchi foi nomeado Superintendente do sal e, nas horas extra-oficiais, conversámos, cara a cara, lamentando muitas vezes com pesar o tempo que eu tinha levado em fazer o perdido trabalho. Procurei e recolhi, por este motivo, os abandonados papéis e, em dez dias, consegui reunir uns oito a nove cadernos.
Tchéong-Tchi fixou o plano da obra, ordenou-a e desenvolveu-a considerávelmente, em substituição da que tinha desaparecido. Comparada com os grosseiros ramos e as grandes folhas do meu trabalho, a sua obra é completamente diferente…(…)
Do trabalho que esteve em poder de Tch´ôi e que julguei ter desaparecido, encontraram-se, cinco ou seis anos após a sua morte, uns amarrotados papéis que ainda restavam com tinta e tinham sido lançados num cesto. Como não estivessem devorados pelos bichos, puderam ser salvos e compilados de forma a constituir esta obra….”
Possuo esta edição de 1950 (4) que foi dedicada ao Governador, Comandante Albano Rodrigues de Oliveira pelo tradutor (“Preito de sincera admiração pelo muito que tem feito pela Colónia de Macau”)
Possuo também outra edição (5) , composta e impressa pela Tipografia Mandarim (Macau) para a Quinzena de Macau realizada em Outubro de 1979-Lisboa. O conteúdo desta publicação é uma reprodução fiel do original “OU-MUN KEI-LEOK”. O que os diferencia, são os mapas. Na edição de 1950, os mapas estão em folhas de 30 cm, dobráveis enquanto que na edição de 1979, têm o tamanho das páginas do livro.
Um dos mapas representa o primitivo edifício do Leal Senado, construído em 1583.
“Esta imagem mostra uma construção de feição nitidamente chinesa num edifício de um só piso, dotado de um alpendre e situado dentro de um recinto murado. Não temos a certeza da fiabilidade deste desenho, podendo o autor, acostumado à sua própria arquitetura, ter adaptado formas que lhe eram estranhas, ou seja, ter dado um ar chinês a um imóvel com características que eram efetivamente ocidentais ou, pelo menos, mais ocidentais.” (6)
Outro, apresenta o mapa de Macau (1751) , onde já se salientam os seguintes lugares: Macau Seak, Templo da Kun-Iam, Aldeia de Mong Há, Templo de Neong Má, Fortaleza da Guia, Tribunal do Mandarim, Portas de S. Paulo, Porta do Cerco
(1) POESIA – VERSOS SOBRE O FAROL DA GUIA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/02/poesia-versos-sobre-o-farol-da-guia/
FESTA LITÚRGICA – S. DOMINGOS DE GUSMÃO
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/igreja-de-s-domingos/
(2) Prefácio do Tradutor, Luís G. Gomes, datado “Macau, 22 de Junho de 1950.
(3) Iân-Kuóng-Iâm , aliás Fu-Tch`èong, natural de Pou-Sán, funcionário oficial, foi nomeado prefeito (magistrado) de T´ai-Pêng, de Kuóng-Tông (Província de Guangdong/Cantão/ 廣東, em 1746. Foi também poeta e escritor. Principiou a escrever a “Monografia de Macau – Ou-Mun Kei-Léok”, mas não chegou a conclui-la tendo a mesma sido completada por Tcheong-U-Lâm.
O outro autor Tcheong-U-Lâm , natural de Sun-Seng, foi também funcionário oficial tendo atingido o grau de Licenciado Sénior. Foi magistrado Distrital em Héong-Sán. Criou a Subprefeitura de Macau (” Macau fica situada ao sul da fronteira de Héong-Sán e entra pelo mar dentro. Ali residem os bárbaros para comerciar com a China “)
(4) OU-MUN KEI-LÉOK Monografia de Macau por Tcheong-U-Lam e Ian-Kuong-Iâm. Tradução do chinês por Luís G. Gomes. Editada pela Repartição Central dos Serviços Económicos- Secção de Publicidade e Turismo, Macau. Imprensa Nacional, 1950, 252 p. 25 cm x 17,4 cm.
(5) OU-MUN KEI-LÉOK Monografia de Macau por Tcheong-U-Lâm e Ian-Kuong-Iâm. Tradução do chinês por Luís G. Gomes. Edição da Quinzena de Macau, 1979 – Lisboa, 298 p. 24,5 cm x 17 cm.
(6) http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=496
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[…] Nacional, 1950, 252 p. NOTA : Mais informações do livro OU-MUN KEI-LEOK, ver anterior post: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/09/leitura-ou-mun-kei-leok-monografia-de-macau/ (2) Foto de John Thomson (1837-1921), retirada de Wellcome Collection: […]
[…] (2) Anteriores referências ao livro: LEITURA – OU MUN KEI LEOK – MONOGRAFIA DE MACAU https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/09/leitura-ou-mun-kei-leok-monografia-de-macau/ POESIA – VERSOS SOBRE O FAROL DA GUIA […]