Comunicação apresentada na Academia de Marinha pelo Membro Efectivo
Contra-Almirante EMQ José Luís Roque Martins
em 14 de Dezembro de 2010 (1)
“Aquele ano de 1960 tinha começado normalmente. Os cadetes do Curso D. Lourenço de Almeida preparavam-se para concluir o 3º semestre do seu curso, o que deveria acontecer até ao fim de Fevereiro. Todos nós sabíamos que no programa de ensino da Escola Naval, o 4º semestre correspondia a uma viagem de instrução. No entanto, apesar de nos aproximarmo-nos rapidamente de Março confesso que não notei que houvesse grande dramatismo com o caso, correndo às vezes notícias desencontradas a que se não dava grande importância. Até que numa tarde, quase no fim de Fevereiro, encontrando-nos a jogar futebol no campo da Base Naval, vejo descer a correr pela rampa do topo sul o meu primo, 1º ten. Martins Salvador, nosso professor na Escola Naval, gritando “Luís, Luís-vocês vão dar a volta ao Mundo!… (…)
Efectivamente aproveitando as Comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique que ocorriam em 1960, era proporcionado aos cadetes do curso D. Lourenço de Almeida uma viagem de circumnavegação… (…)
Saímos do Japão rumo a Hong-Kong pelo estreito da Formosa. A visita a este território, grande centro comercial e também cinematográfico, mostrou-nos um lugar cosmopolita com imensa população, com um centro da cidade onde predominavam os grandes bancos e grandes empresas.
Daí a Macau foi um pequeno passeio entre ilhas. Em Macau foi pena termos de ficar no Porto Exterior a 4 milhas de terra. A ligação era feita por um rebocador que ia lançando fagulhas, que com o tempo chuvoso que apanhámos quase sempre, nos sujava as fardas permanentemente. Estivemos pouco tempo em Macau, mesmo assim deu para visitar os pontos mais importantes da cidade, desde o Farol da Guia até à Porta do Cerco, às ruínas da Igreja de S. Paulo e à gruta de Camões e às instalações da Marinha. Circulámos no Centro e tivemos uma recepção no Leal Senado e uma pequena festa no Clube Militar e ainda tivemos tempo de ir uma noite ao velho Casino Central, experimentar aquele ambiente de fumos e odores exóticos.
Macau em 1960 tinha casas relativamente baixas e não havia nenhuma construção moderna, como as que vieram a ser construídas no último quartel do século XX. Ficámos um pouco surpreendidos com a reduzida percentagem da população que falava português. Tirando o pessoal dos correios, da polícia, e das funções oficiais, poucos mais falavam a nossa língua.”
AVISO DE 1.ª CLASSE “AFONSO DE ALBUQUERQUE” (2)
Esta viagem, a bordo aviso de 1ª classe “Afonso de Albuquerque” iniciou-se em 18 de Março de 1960.
O aviso “Afonso de Albuquerque” ficou em Goa tendo os cadetes sido transferidos para o “Aviso Bartolomeu Dias ” que regressava a Lisboa. O Aviso “Afonso de Albuquerque” não voltaria a Lisboa pois em Dezembro de 1961. no combate com a esquadra indiana, acabou por se perder encalhado perto de D. Paula (praia de Bambolim). Do combate resultou 5 mortos e 13 feridos . A heroicidade da guarnição do “Afonso de Albuquerque” foi reconhecida pelo próprio inimigo, sendo Cunha Aragão (o comandante, António da Cunha Aragão, capitão de mar e guerra ficou ferido durante o combate) visitado no hospital, pelos comandantes dos navios que enfrentou. Depois de capturado, o navio foi rebatizado “Saravasti” pelos indianos, sendo rebocado para Bombaim (hoje, Mumbai). (3)
AVISO DE 1.ª CLASSE “BARTOLOMEU DIAS (4)
NOTA: Os cursos da Escola Naval tinham um patrono. O curso «D. Lourenço de Almeida» foi o primeiro curso da chamada «nova» reforma da Escola Naval, aprovada pelo Decreto-Lei nº 41.881, de 26 de Setembro de 1958, que veio alterar, substancialmente, o ensino naquela Escola. Os 63 Cadetes que iniciaram o curso em 2 de Dezembro de 1958, com destino às classes de Marinha, Aviação Naval, Engenheiros Maquinistas Navais e Administração Naval, constituíram, muito provavelmente, o maior curso que alguma vez frequentou a Escola Naval. (5)
Lourenço de Almeida (1480-1508) foi capitão-mor de Portugal, único filho varão do vice-rei D. Francisco de Almeida e de Brites Pereira. Combateu em Tânger (1501) e chegou ao Ceilão (actual Sri Lanka) em 1506 onde submeteu o rei e descobriu a origem da canela. Derrotou a poderosa esquadra do rei de Calecute. Faleceu em combate, em 1508, na batalha de Chaul frente à esquadra mameluca egípcia comandada por Mirocem. (6)
(1) http://www.marinha.pt/PT/amarinha/actividade/areacultural/academiademarinha/Conferencias/Documents/14DEZ10.pdf
(2) http://www.guerracolonial.org/specific/guerra_colonial/uploaded/graficos/naviosfichas/navios.swf(3) http://pt.wikipedia.org/wiki/NRP_Afonso_de_Albuquerque
(4) http://naviosenavegadores.blogspot.pt/2009/04/bartolomeu-dias-o-navegador-e-os-navios.html
(5) http://avozdaabita.blogspot.pt/2008/11/os-50-anos-do-curso-d-loureno-de_20.html
(6) http://pt.wikipedia.org/wiki/Louren%C3%A7o_de_Almeida,_capit%C3%A3o-mor
[…] (1) O aviso “Afonso de Albuquerque” foi um navio da Marinha Portuguesa, afundado em combate a Invasão de Goa em Dezembro de 1961 pelos navios da União Indiana (3) O navio foi o primeiro dos avisos de 1ª classe da classe Bartolomeu Dias, construídos para a Marinha Portuguesa, em Newcastle pela firma Hawthorn, Leslie & Comp. Lançado à água em 28-5-1934 e aumentado ao efectivo dos navios da Armada em 31-1-1935, Saiu para Lisboa em companhia do submersível “Espadarte” tendo os dois novos navios entrado no Tejo pela primeira vez em 7-3-1935, sendo escoltados desde Cascais por 22 navios que, em festivo ambiente, os aguardavam. Como aviso colonial a sua função principal era a defesa da soberania de Portugal no seu Império Ultramarino. Nessa função, o navio estava sobretudo, vocacionado para apoiar desembarques anfíbios e a acção de tropas em terra. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Afonso de Albuquerque foi equiparado a uma fragata, recebendo o número “F470”. O navio passou a maioria da sua carreira em serviço nos oceanos Índico e no Pacífico. Em 1945, cumpriu uma comissão de dois anos no Extremo-Oriente, durante a qual apoiou a reocupação de Timor após a capitulação japonesa. Em 29-11-1951, largou para uma viagem à Índia, Extremo-Oriente e Moçambique. Em 1952 fez uma comissão idêntica à anterior. Em 1954 saiu para uma comissão na Índia tendo sido incorporado nas Forças Navais do Estado da Índia. Após cerca de 2 anos e meio de permanência nas águas do Estado da Índia, regressou a Lisboa em 1958, entrando em reparações que decorreram até Março de 1960. Em 18-3-1960 iniciou uma viagem de circum-navegação de Ocidente para Oriente, integrada nas Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, na qual embarcaram os 48 cadetes do curso “D. Lourenço de Almeida” da Escola Naval. O navio chegou a Mormugão em 16-7-1960, tendo rendido o N.R.P. “Bartolomeu Dias” que se encontrava em comissão e que regressou a Lisboa depois de embarcar os cadetes em viagem. (4) Posteriormente houve outro navio com o mesmo nome: AFONSO DE ALBUQUERQUE A 526 ex. Dalrimple, ex. Luce Bay “Transformado a partir de uma fragata da classe Bay, este navio foi adquirido por subscrição Nacional a fim de substituir o aviso com o mesmo nome perdido na Índia. Havia sido construído por William Pikergill & Sons na Inglaterra. Tinha servido na Royal Navy entre 1949 e 1966. Foi abatido ao efectivo da Armada em 1983, sendo mais tarde afundado em exercícios ao largo da costa.” https://pt.wikipedia.org/wiki/NRP_Afonso_de_Albuquerque http://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=2621.0 (2) Fotos retirados de MOSAICO, 1952. (3) PORTARIA 19262 de 7 de Julho de 1962 – MINISTÉRIO DA MARINHA “Manda abater ao efectivo dos navios da Armada o aviso de 1.ª classe Afonso de Albuquerque e as lanchas de fiscalização Vega e Sirius”. (4) Sobre esta viagem de circum-navegação, ver em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/06/29/a-viagem-de-circum-navegacao-do-curso-d-lourenco-de-… […]