A Gruta de Camões em 1956

“Em 1840, foi colocado, pelo Comendador Lourenço Marques (1) a à sua custa, na gruta, um busto tosco, em barro ou greda bronzeada, da autoria de artistas chineses, substituindo outro que tinha sido mutilado por vandalismo.
Este busto ainda foi substituído, em 1886 (2)  pelo  actual em bronze, da autoria de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, (3) e fundido no Arsenal do Exército, que se eleva sobre um singelo pedestal de granito. Na sua base e em letras doiradas tem a inscrição:

NASCEU          LUÍS        MORREO

DE

1524       CAMÕES      1580

A gruta, uma espécie de nicho, é formada por três grandes rochedos facetados, sendo dois colocados verticalmente e o terceiro servindo de tecto.
Pena é que não apresente as suas primitivas características, alteradas pelas modificações introduzidas para o melhorar, mas que a fizeram perder a sua beleza natural.
A este facto se referiu o poeta e Conselheiro Frederico Leão Cabreira, ( 4) numa descrição feita da gruta que enviou a Marques Pereira (5) e a respeito da referência a ela da Revista “TA-SSI-YANG-KUO”, citamos a seguinte passagem:
“Uma das maiores provas de respeitosa consideração que deveriam tributar-se à esclarecida memória do ínclito Poeta, seria sem dúvida a conservação da gruta sua predilecta no mesmo estado em que existia, quando  ele a frequentava
 
Texto retirado da conferência “MONUMENTOS NACIONAIS EXISTENTES NA PROVÍNCIA DE MACAU“, proferida pelo Major Acácio Cabreira Henriques, (6) no Salão Nobre do leal Senado da Câmara, no dia 26 de Maio de 1955, e integrado no “3.º CICLO DE CONFERÊNCIAS” promovido pelo Círculo Cultural de Macau.
(1) Comendador Lourenço Marques (1811-1902) nasceu a 7 de Agosto, dia de S. Caetano e, 3 dias depois, a de S. Lourenço, pelo que recebeu o nome de Lourenço Caetano Marques (referência de  Padre Manuel Teixeira) É referido como Lourenço Pereira Marques por Luís Gonzaga Gomes.(7)
(2) Em 1885 o jardim de Camões e o edifício nele existente ( Casa Garden ) tornou-se propriedade do Governo, tendo sido comprado por iniciativa do Governador Tomás Rosa ao Comendador Lourenço Marques, que tinha herdado do seu sogro Manuel Pereira.
Segundo Luís Gonzaga Gomes, “este busto foi substituído  em 1861, pelo do estatutário M.M. Bordalo Pinheiro, o terceiro e ultimo que veio substituir o primeiro, mandado fazer em Lisboa pelo então proprietário  do local, o Comendador Lourenço Pereira Marques, que ajardinou o recinto e construiu a gruta , fazendo reviver o cenário  de si encantador”. (7). Segundo Padre Teixeira (8), “o busto de gesso é de 1984 e depois outro de bronze, em 1864…(…) Vendeu a gruta ao Governo por $ 35 000,00″
(3) Manuel Maria Bordalo Pinheiro ( 1815-1880), diplomado pela Academia de Belas-Artes de Lisboa, pai de Rafael Bordalo Pinheiro e Columbano
(4) Conselheiro Frederico Leão Cabreira de Brito e Alvelos Drago Valente (1800-1880), General. 2.ªBarão e 1.ª Visconde de Faro. Governador de Timor entre 1839 e 1844. Foi Governador do Forte de Nossa Senhora da Graça (Elvas). http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_Le%C3%A3o_Cabreira
(5) João F. Marques Pereira, sinólogo , editor da revista Ta-Ssi-Yang-Kuo (arquivos e anais do Extremo Oriente Português (1899-1939)
(6) O Major Acácio Cabreira Henriques, era Chefe da Secção de Justiça e Presidente do Conselho Administrativo do Comando Militar de Macau, nessa altura. Foi nomeado pelo Governador , Almirante Joaquim Marques Esparteiro (Portaria de 10 de Dezembro de 1953) para fazer parte de uma comissão para entre outros estudos, proceder ao da classificação dos Monumentos Nacionais, existentes na Província de Macau.
(7) Macau Antigo – Macau, Boletim Informativo, n.º 69, 1956
(8) TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau. Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, Macau, 1982, 171 p.