” … Ora é da construção do porto de Macau, em vias de acabamento, que nos falaram há dias as comunicações telegráficas.
Há 41 anos que foi elaborado pelo engenheiro Adolfo Loureiro o primeiro projecto para a construção  do porto, mas foi julgado grandioso de mais para as posses financeiras da província. A esse estudo seguiram-se outros até que o de general Castelo Branco  foi  definitivamente  aprovado iniciando-se os trabalhos em 1917 com as receitas já então muito grandes, cobradas anualmente pelo governo.
Este projecto visava especialmente a construção do chamado Porto Interior, do  este da peninsula, olhando portanto a ilha da Lapa e foi alterado, completando-se com novos traçados, de acordo com as exigências modernas.
Em 1919, resolveu-se  que o porto, para navios de grande calado, seria feito na costa leste da península – na “ráda” – e o acordo diplomático, feito com os chinezes em 1920, garantiu a tranquila execução do grandioso plano de engenharia que tornará Macau, aos seus antigos tempos de esplendor comercial.
O plano geral do porto pode vê-lo, o leitor, acompanhando na planta junta a breve descrição que vamos fazer
Comecemos pelo istmo onde se abrem as velhas Portas do Cerco.
Seguindo a costa do lado do Porto Interior temos: docas, varadouro e estaleiros, para embarcações de pequeno porte. Um canal, que atravessa o istmo ao norte, faz a ligação entre o Porto Interior e o Porto de Areia Preta, destinado a navios de pequena tonelagem e dispondo de uma doca seca. Um canal permite a comunicação deste Porto com o Porto artificial, para navios de grande calado.
Ao longo do caes verá o leitor o Bairro Industrial e operário, o Arsenal, o Depósito de Carvão, os Armazéns e caes acostáveis. Continuando a seguir a carta encontramos, sucessivamente, as docas n. 5 para vapores de carreira; n. 4; n.3 para juncos; n. 2 para embarcações de recreio e para as da capitania; n.1 para hidroaviões, cujo parque está situado entre esta doca e a doca n.2.
Longos molhes, cuidados e fortemenet construídos, defendem dos impetos do mar, quando revolto, os ancoradouros dos navios…(…)
…para que se possa fazer ideia da atividade com que tem caminhado as obras, bastará saber-se que os trabalhos executados pela MIssão de Melhoramentos e pela Direcção das Obras dos Portos, desde abril de 1919 ao fim de 1921, foram:
+Dragagens de Patane, ao norte da Ilha Verde, Macau Siac, Taipa, do Porto Interior (para conservação) num volume total de 1 milhão de metros cúbicos;
+Aterros correspondentes, em cêrca de 50 hectares;
+Defezas dos aterros, com môtas, n´uma extensão total (incluindo as praias artificiaes, para varadouros) de 4 quilometros.
+Obras hidraulicas marginais numa extensão total de 1500 metros;
+Molhes de abrigo (em enrocamentos) na extensão total de 1.100 metros; isto alem da organização e instalação dos serviços,  elaboração do plano geral e dos projectos, os respectivos  desenhos…
…(…)…
Olhando atentamente a planta verificará o leitor que, por detraz dos armazens que se alinham em frente ao cais, está indicada a Gare do Caminho de Ferro. D´ali, pois, ha-de partir a linha que ligará Macau a Cantão…”

Portas do Cerco (c 1925)

(1) Artigo não assinado “O porto de Macau” na revista PORTUGAL, n.º 46 de 30 de Junho de 1925