Oferecido em Macau à Excelentíssima Senhora D. Maria de Saldanha Noronha e Meneses e suas filhas (2)
Musa chorosa, que por terra estranha
Tão longe de teu pátrio ninho amado,
Andas errante, suspirando ao lado
Da Saudade fiel, que te acompanha:
Do chão, onde a lançaste, a lira apanha,
E seja em brando som por ti cantado
Um peito de virtudes adornado,
A piedosa, a magnânima Saldanha
Louva os dons daquela alma excelsa e pura,
Que as tuas gastará mágoas penosas,
Como a aurora desfaz a noite escura
Depois às linhas filhas melindrosas,
rivais da mãe de Amor na formosura
Tece capelas e festões de rosas.
(1) Manuel Maria Barbosa do Bocage (1765- 1805)
Embarcou em 1786 para India. Esteve em Goa 28 meses e devido à sua participação na «Conspiração dos Pinto», foi transferido para Damão. Chegou a Damão em 7 de abril de 1789. No dia seguinte desertou, indo para Surrate e depois com destino a Macau. Porém devido a um tufão, o navio foi parar a Cantão. Daí veio para Macau. O desembargador Lázaro da Silva Ferreira (governador interino) repatriou-o para Lisboa onde chegou em Agosto de 1790.
“Presumimos que Bocage estivesse em Macau desde Setembro ou Outubro de 1789 a Março de 1790, em que partiu para Lisboa. A razão é a seguinte. Ele compôs em Cantão uma elegia à morte do príncipe D. José. Ora este faleceu a 11 de Setembro de 1788, mas a notícia só chegou a Macau a 15 de Setembro de 1789 e a Cantão pela mesma altura. Bocage, chocado com a notícia, lamenta-se:
Triste povo! E mais mísero eu, que habito
No remoto Cantão, donde, Ulisseia,
Não pode a ti voar meu débil grito!
Deve ter partido pouco depois para Macau. Ora como ele chegou a Lisboa em Agosto de 1790 e as viagens demoravam 5 meses, deve ter partido daqui em Março desse ano, graças ao seu benfeitor Lázaro da Silva Ferreira.” (3) (pp 83-84)
(2) Soneto que Bocage fez no final de 1789, em homenagem a Maria de Saldanha Noronha e Meneses (e às suas filhas), dama da sociedade macaense que deve ter apoiado a sua estadia em Macau e contribuído bastante para que Bocage voltasse a Lisboa.
Maria Joaquina Saldanha Noronha Menezes casou em 08-12-1774 com Bernardo Aleixo de Lemos Faria, governador de Macau de 1783 a 1788. Teve duas filhas Ana Isabel de Lemos Saldanha e Mariana Xavier de Lemos Saldanha
(3) TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, Macau, 1982, 171 pp.