Cabia às salas de cinema em Macau, a divulgação da sua programação principalmente das suas estreias que aconteciam serem sempre ao fim de semana. Usualmente começavam às sextas feiras e iam até segunda feira. Às terças, quartas e quinta feiras, eram reposições de filmes já estreados ou estreias daqueles de pouco impacto comercial.
Além dos cartazes afixados nos teatros, em certos sítios do território e em jornais de língua chinesa (que me recordo não havia a tradição de publicitação dos filmes nos jornais de língua portuguesa a partir dos anos 50), a divulgação era feita através de um folheto com o programa da sessão. Na maioria eram do tamanho de A5, sem anúncios publicitários (os folhetos mais antigos tinham alguma publicidade que ajudava certamente a custear a impressão) chamando a atenção do público para o filme (com uma sinopse do argumento) e “poster” do(s) filme(s) a estrear (“próxima mudança” ou ” brevemente”) e publicitando os serviços oferecidos, principalmente para os meios audiovisuais.
Um dos meus passatempos desde os meus nove/ dez anos de idade, era semanalmente, às sextas ou aos sábados, percorrer os teatros Império, Capitol, Vitória, Apolo e depois Nam Van, para recolher os folhetos. Apesar de haver outros locais com cinema (Oriental, Cheng Peng, Roxy, Lai Seng, Alegria, e posteriormente Lido, etc.) eram aqueles os que projectavam os filmes de língua inglesa, na sua maioria norte-americana e que apresentavam os folhetos em português. Estes, nem sempre eram publicados ou quando o eram, a tiragem era pouca, pelo que se esgotava facilmente, o que era para mim um decepção caso não os conseguisse nessa semana. Acumulei desde essa idade até aos meus dezassete anos (idade com que saí de Macau), cerca de 1000 folhetos (fui também juntando à minha colecção, outras mais antigas dados por amigos e familiares).
Já SENNA FERNANDES (1) nas suas memórias da “Rua das Mariazinhas” (p. 75) referia:
” Na Avenida Almeida Ribeiro, não me interessavam nem aos meus companheiros, os ourives, as casas de chá, nem mesmo o Hotel Central. parávamos inevitavelmente no Cinema Victória para admirar os cartazes dos filmes anunciados, a fotografia das “estrelas” e recolhíamos o programa distribuído na bilheteira em português”
É desta colecção que pretendo dar a conhecer , os folhetos do filmes que foram apresentados em Macau. O mais antigo que possuo é referente ao Teatro Vitória do ano 1939.
Para os curiosos (cinéfilos), sobre o cinema em Macau, pode consultar:
PINTO, Luís – Macau: 80 Anos no Cinema. Revista Macau, II Série n.º 12, Abril 93. pp. 22-29.
FERNANDES, Henrique de Senna – O Cinema em Macau. O tempo do “mudo” – I in Revista de Cultura, Número 16, Edição em Português, Outubro/Dezembro 1991, Instituto Cultural de Macau, pp. 31-61.
FERNANDES, Henrique deSenna – O Cinema em Macau – II 1930-31- A emoção do sonoro in Revista de Cultura, Número 18 (II Série), Edição em Português, Janeiro/Maço 1994, Instituto Cultural de Macau, pp. 183-216.
FERNANDES, Henrique deSenna – O Cinema em Macau – III (1932-36) in Revista de Cultura, Número 23 (II Série), Edição em Português, Abril/Junho de 1995, Instituto Cultural de Macau, pp. 133-170
e no Blog do João Botas
– Cinema em Macau: pequenos contributos (2)
(1) FERNANDES, Henrique de Senna – Mong-Há, Instituto Cultural de Macau, 1998, 275 p., ISBN-972-35-0269-0
(2) http://macauantigo.blogspot.com/2010/06/cinema-em-macau-pequenos-contributos.html